sábado, 20 de dezembro de 2008

A BACIA DE SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ


XX CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA
A bacia de São José de Itaboraí da descoberta em 1928 ao Parque Paleontológico em 2007

Vanessa Maria da Costa Rodrigues-Francisco
Benedicto Humberto Rodrigues-Francisco

Em 25 de Fevereiro de 1928 uma análise química de amostra proveniente da fazenda São José, no município de Itaboraí, Estado do Rio de Janeiro, evidenciou a ocorrência de calcário até então desconhecida na região. A análise da amostra, efetuada no Laboratório da Produção Mineral do DNPM, por Marysia Fontoura, revelou a presença de óxido de cálcio (53,68%) e óxido de Magnésio (2,96%). A partir dessa descoberta a ocorrência despertou a atenção da incipiente indústria de cimento. Havia apenas uma fábrica operando em São Paulo. O Brasil importava o cimento de que necessitava em barris de madeira. Manifesto de lavra foi concedido para Companhia de Cimento Portland Mauá em 1935. A fábrica foi construída em Guaxindiba, São Gonçalo. Acorreram os pesquisadores em busca de informações sobre a ocorrência de uma nova bacia sedimentar. Os primeiros fósseis foram coletados e enviados para Carlota Joaquina Maury, nos EUA. Em 1935, Vitor Leinz realizou os primeiros estudos geológicos publicando os resultados com uma hipótese sobre sua origem e evolução. Inúmeros trabalhos surgiram sobre a fauna e a flora, estes em menor número. A explotação de calcário continuou até o início da década de 80, quando se notou o esgotamento da reserva não obstante alguns esforços no sentido de se encontrar a continuidade da bacia nas proximidades. O fato levou e empresa mineradora a optar por explotar calcário em outra região do Estado do Rio de Janeiro. Com a desativação da pedreira a água passou a ocupar o espaço surgindo aos poucos uma lagoa cuja água é utilizada para abastecer a população local. Serve também como área de lazer com a prática de pesca de anzol.
Os professores Fausto Cunha e Benedicto Rodrigues percebendo desde logo o risco ao patrimônio geopaleontológico recorreram ao IPHAN solicitando o tombamento da bacia. Infelizmente não obtiveram sucesso. A professora Maria Beltrão havia tentado, simultaneamente, mas sem sucesso, o mesmo recurso. O insucesso, contudo não desanimou os pesquisadores. Em 1990 a Prefeitura desapropriou a área e em 1995, depois de muita luta, os geólogos José M.M. Caniné e Benedicto H.R Francisco lograram o primeiro e importante êxito político em suas ações visando à proteção definitiva do sítio geológico e paleontológico. O prefeito João César a Silva Caffaro resolveu criar o Parque Paleontológico de São José de Itaboraí por decreto lei 1346, em 12 de dezembro de 1995.
Através da portaria 304/97, em 21 de maio de 1997, o prefeito Sérgio Alberto Soares nomeou a Comissão Gestora do Parque Paleontológico de São José. Em seguida, os mesmos pesquisadores prepararam o Projeto do Parque e iniciaram a busca pelas verbas. Em 2000, por iniciativa do professor Benedicto Rodrigues foi promovido o abraço simbólico por ocasião do quinto aniversário de criação do Parque.
Finalmente com a entrada do Instituto Virtual de Paleontologia da Faperj, através da iniciativa da professora Maria Antonieta Rodrigues algumas ações significativas tiveram lugar. Primeiro a adoção do Projeto Jovens Talentos Cecierj/Faperj possibilitou a aprovação de cerca de vinte bolsas para estudantes da escola estadual Francisca Carey. Os estudantes passaram a ser orientados por professores ligados ao Parque. O sucesso desta iniciativa acabou desembocando no apoio da Petrobrás. Com a verba da Estatal foi possível a recuperação de alguns imóveis do Parque visando à implantação de cursos profissionalizantes, um museu, uma biblioteca e um setor de informática. O esperado é uma continuidade das ações e que os apoios sejam efetivos para que o Projeto do Parque Paleontológico finalmente seja concretizado com enormes benefícios para a comunidade de São José, tão prejudicada no passado pela desativação da mineração e abandono da área.
A situação do sítio geo-paleontológico de Itaboraí somente não foi agravada graças à ação firme e destemida de parte da comunidade científica do Rio de Janeiro, que jamais desistiu de lutar pela preservação desse patrimônio de incontestável importância mundial.

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