terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Geologia Médica


Geologia e saúde geram uma nova ciênciaEmbora há muito conhecida pela ciência, a geomedicina só vem sendo recentemente utilizada e sistematizada no Brasil. O geólogo Benedicto Rodrigues, que realizou as pesquisas pioneiras sobre o tema no País, explica que a geomedicina ou geologia médica, na verdade é uma ciência bem antiga, que remonta aos primórdios da própria medicina: ao se utilizar produtos minerais para resolver problemas de saúde, como o talco usado contra assaduras, por exemplo, ou ao se identificar carências de certos elementos como causas de distúrbios. Já os estudos pioneiros e sistematização do tema foram provavelmente realizados na China e na Índia, principalmente desde a segunda metade do século passado.Atualmente, a geomedicina está mais concentrada sobre o estudo de componentes metálicos ou minerais naturais no solo ou na água que podem, em determinadas circunstâncias ou quantidades, ser extremamente prejudiciais à saúde dos seres humanos, causando danos a comunidades inteiras.Uma das doenças que vem sendo bastante discutida é a Fluorose. É causada pelo excesso de flúor disponível na água e num primeiro momento seus sintomas são manchas brancas nos dentes e num estágio mais avançado dor nas articulações. A concentração de flúor ideal na água é de 1 ppm (parte por milhão) nos climas frios. Em regiões mais quentes onde o consumo de água é maior, costuma-se aplicar 0,7 ppm na água. O problema pode ocorrer em regiões onde a água já apresenta um alto índice de flúor em sua composição, em razão de componentes naturais no solo da região.
A geóloga Maria Paula Casagrande Marimon está pesquisando o alto teor de flúor na água subterrânea consumida nas áreas rurais rurais de Venâncio Aires e Santa Cruz. Lá, detectou comunidades com cerca de 300 crianças em que praticamente todas estavam com fluorose. Poços, já desativados, chegam a atingir uma dosagem de 12 ppm de flúor na água. A maior preocupação da geóloga é descobrir a origem do flúor, já que o solo da região não apresenta em sua composição causa direta com a origem do componente na água.O geólogo Wilson Scarpelli comenta sobre uma das anomalias naturais encontradas no País, a baixa estatura das pessoas na região de Paracatu, em Minas Gerais. Acredita-se que o fenômeno possa ser causado pelo alto índice de zinco encontrado naquela localidade. O geólogo acrescenta outros exemplos, como a incidência maior de casos de câncer em áreas onde se observa excesso de arsênio. Scarpelli alerta, no entanto, que os problemas geralmente ocorrem em comunidades cuja obtenção de alimentos e água está diretamente ligada à localidade onde vivem. Ainda assim, outros fatores além daqueles ligados diretamente à alimentação, também precisam ser considerados. De acordo com Rodrigues, áreas com minerais radioativos podem ser problemáticas. As rochas com urânio devem ficar longe das habitações e descartadas como material de construção. Uma pesquisa divulgada em maio deste ano pelo Imperial Cancer Research Fund (ICRF), ligado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostrou que existe uma ligação muito mais preocupante do que se pensava entre gases de radônio (elemento químico gasoso, pesado, radiotivo, pertencente ao grupo dos gases nobres ) e o câncer de pulmão. Conhecida apenas entre mineradores, a contaminação por radônio atinge também a população residente em regiões onde há alta incidência deste gás (que é natural em muitas regiões), aumentando o índice da doença entre as pessoas expostas em cerca de 20 por cento.Por causa de estudos como este, o maior mote da geomedicina vem sendo a prevenção. O intercâmbio com a medicina e a obtenção de dados estatísticos precisos na área de saúde são, também, fundamentais para o crescimento dos estudos na área. Rodrigues estima que existam hoje no Brasil cerca de 100 geólogos atuando nesta área. Espera-se um grande crescimento nas iniciativas na geomedicina após o workshop que acontecerá entre os dias 14 e 16 de outubro, na Unicamp, em Campinas/SP.
Publicado pelo Jornal do CREA-RS - Outubro / 2003 - Ano XXIX - Nº 06

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